Sobre escolher a calma

Viajar é bom, isso todo mundo sabe. Mas dentro de uma viagem sempre acontecem muitas descobertas.

No ano passado, decidi fazer um mochilão! Passei três meses planejando cada detalhe da viagem. Embarquei no dia 12 de setembro de 2023 e o meu primeiro destino foi Berlim, na Alemanha.

Cheguei em Navegantes com algumas horas de antecedência para despachar uma pequena bagagem, como faço sempre e também o que é recomendado. Na hora de embarcar, tudo fluindo. Passei pelo raio-X, entrei na fila para entrar no avião, coloquei minha mochila no bagageiro, sentei, me acomodei e o voo saiu no horário correto.

Tudo como planejado. “Excelente!”, pensei.

Minha primeira conexão era o Aeroporto de Guarulhos, localizado em São Paulo, e, depois de 40 minutos, já estávamos a sobrevoar a cidade.

O meu próximo voo era para Paris e o tempo entre um voo e outro era relativamente curto, então eu estava muito contente que tudo saía como programado. “Perfeito”, sussurrei baixinho enquanto olhava pela janela.

No alto-falante, um recado. “Senhores passageiros, ainda não temos autorização para pousar, vamos precisar mudar a rota e ir para Campinas porque não temos combustível o suficiente para aguardar.”

Nesse momento, meu mundo caiu.

Foi um grande caos entre remarcações de voo, pernoite em São Paulo, mala extraviada e muito mais. Cheguei em Berlim um dia depois do que eu esperava.

Isso fez com que a minha ficha começasse a cair mais tarde, bem lentamente. Em vários momentos, eu me emocionei ao me ver lá, caminhando, observando, entendendo, absorvendo tudo isso que eu estava vivendo.

Quando eu era criança, sempre me imaginava viajando; sabe quando a gente assiste um filme e começa a sonhar em estar naquele lugar? Eu sempre fui bem sonhadora, continuo assim. E, quando a gente conquista cada um desses objetivos, a sensação de orgulho e realização é gigantesca.

Mas confesso que também vem a sensação de “como é possível eu estar vivendo isso?” Tal como se fosse uma dúvida de merecimento.

Um dos grandes desafios que encontro no meu caminhar é aceitar que eu posso, que eu mereço, que isso é resultado de tudo que eu corro atrás para fazer — e eu corro muito.

Aceitar que o mundo tão gigante pode, sim, ser conhecido, às vezes, é assustador.

E são tantas as coisas assustadoras.

Estar em países com idiomas diferentes. Um voo cancelado, dois voos remarcados, mudança da companhia aérea, perguntas sem respostas, um dia de viagem perdido — na verdade dois —, um dia sem dormir, uma mala extraviada que só foi recuperada 14 dias depois. Vários problemas e burocracias que foram resolvidos em outros idiomas.

Assim como a vida cotidiana, a viagem também tem suas problemáticas.

E o maior exercício dos primeiros dias em qualquer viagem é escolher a calma.

Respirar, fazer o que pode ser feito, ser flexível, aceitar que não temos o controle de tudo, entender que, às vezes, nem tudo sai como planejado e ver as infinitas vitórias dentro de cada um desses desafios.

A vida é uma grande bagagem cheia de coisas pra compartilhar e muita coisa pra aprender. Eu sempre digo que a arte imita a vida, mas quem ressignifica ela é uma viagem.

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