Sobre escolher a calma
Diário de viagem e pensamentos – Mochilão #1
Observo pela janela do trem após 5 horas de tentativa falha de resolver mais um perrengue de viagem.
Viajar é bom, isso todo mundo sabe. Mas dentro de uma viagem eu vivo muitas descobertas. A ficha está começando a cair agora, bem lentamente. Em vários momentos nos últimos dias eu me emociono ao me ver aqui, caminhando, observando, entendendo, absorvendo tudo isso que estou vivendo.
Quando eu era criança, sempre me imaginava viajando; sabe quando a gente assiste um filme e começa a sonhar em estar naquele lugar? Eu sempre fui bem sonhadora, continuo assim.
E quando a gente conquista cada uma dessas coisas a sensação de orgulho e realização é gigantesca.
Mas confesso que também vem a sensação de “como pode eu estar vivendo isso?”. Tal como se fosse uma dúvida de merecimento. Tem alguns sentimentos que ainda não compartilhei com vocês — alguns que são íntimos; outros porque ainda não chegou a hora — e esse é um deles.
Um dos grandes desafios que encontro no meu caminhar é aceitar que eu posso, que eu mereço, que isso é resultado de tudo que eu corro atrás pra fazer — e eu corro muito.
Aceitar que o mundo tão gigante pode sim ser conhecido — às vezes é assustador.
E são tantas as coisas assustadoras.
Estar em países com idiomas diferentes. Um voo cancelado, dois voos remarcados, mudança da cia aérea, perguntas sem respostas, um dia de viagem perdido — na verdade dois —, um dia sem dormir, uma mala extraviada e ainda não recuperada (calma que em breve vou contar a cereja do bolo dos perrengues ).
Vários problemas e burocracias para serem resolvidos em outros idiomas. Assim como a vida cotidiana, a viagem também tem suas problemáticas.
E o maior exercício dos primeiros dias tem sido escolher a calma.
Respirar, fazer o que eu posso, ser flexível, aceitar que não tenho controle de tudo, entender que às vezes nem tudo sai como planejado e ver as infinitas vitórias dentro de cada um desses desafios.
É gente, terceiro dia de viagem e já tô com uma bagagem cheia de coisas pra contar e muita coisa pra aprender.
Com amor
Manuela
a mais nova mochileira do pedaço