Fevereiro, 2019, 28 dias
Amada Manu
21 horas do dia 27 de fevereiro. A pensar nos últimos dias do mês que não escrevi para você. E escrever para você me faz uma pessoa melhor. De certa forma, ao conceber essas cartas falo também para sua irmã e para o futuro. Cartas assim com destinatários tão sublimes devem sim se repetir com mais frequência, algo que não fui capaz de fazer nesse mês de fevereiro, tão curto, tão fluido. O fato é que não controlamos o que sentimos e pensamos em cada dia. Alguns são nobres, e a consciência se desprende com facilidade. Outros, pesados, que nos deixam pregados no chão, raízes a se aprofundar e descer, descer, quase sem controle, em um pesadelo interminável. Hoje, me dispus. O tempo onomatopaico clichê: tic tac, tic tac.
Esse mês, ganhei um novo futuro, meus 56 anos, no dia 16. Seria uma data à toa, como você sabe que sempre a considero. Algo sem importância, já foi fruto de embates intermináveis com a sua mãe Cris e as “festas surpresas”. Com os anos, lá vão perto dos 30 com ela, fiquei mais tolerante com essa data; essas datas que retornamos ao mundo para mais uma jornada.
Nesse 2019, as surpresas foram muitas, em uma distância de ti em exatos 9.828 km; fui muito paparicado com palavras de afeto pelas duas outras mulheres que ficaram no Brasil. E por tantos amigos e irmãos que lembraram, ou foram lembrados pelas redes, que era minha “nova idade”, como dizem os colunistas sociais. Se já não me bastasse tanta deferência, comecei a receber direto de ti, junto das suas felicitações e amor, as felicitações de seus amigos de Dublin de tantos países: Brasil, México, França, Irlanda. Palavras que me rejuvenesceram; agradeça a todos e a todas.
Amizade é algo que me toca, apesar de ter poucos amigos. Vejo vocês e me emociono. Amizade é uma forma de amor. Dedicação, tolerância, acima de tudo, saber ouvir. Sua irmã Rafaela é igual. Um dos meus divertimentos preferidos é levá-la e buscá-la na escola. Tenho memoria afetivas a respeito. Crianças brincando, correria, sinal tocando alto. Quando ela chega, todos já vem abraçá-la. Amor cultiva-se com atos bons; mudanças que procuramos fazer em nós mesmos.
18h03 do dia 28, do mês curto de fevereiro em que ainda não entreguei nenhuma carta a você.
Nas coisas simples, estão as nossas maiores conquistas, Manu. Isso é a mais importante notícia de fevereiro. Você sabe disso. Nós sabemos disso. Percebo quando vejo sua vibração nos vídeos em que você mostra as compras da semana. Ou mesmo quando você conta o que terão para o jantar, ou ainda suas aventuras com o entupimento do banheiro. A simplicidade está em todos os locais. Em Dublin e em Blumenau. Lembro disso quando me esforço para poder cumprir minha rotina de caminhadas longe da procrastinação, quando atendo bem um cliente, com toda paciência, quando me esforço heroicamente para não julgar absolutamente a ninguém, nem a mim mesmo; quando mantenho bons pensamentos mesmo que no meu entorno as notícias do meu país não sejam as melhores. Simplicidade é saber que teremos sempre tempo para um dia melhor, para transformação necessária. Para novos horizontes. Sim, Manu, fevereiro passou a voar. E ficarmos felizes com isso. Tic, tac. Tic, tac.
Sinta-se amada. Beijos a todos aí.
Manoel Fernandes, 55 anos, é jornalista, editor, palestrante e curador de conteúdo para empresas e organizações. Foi criador de uma das mais tradicionais revistas alternativas da internet no Brasil, a NovaE. Calhamaço de viagem é seu segundo livro. Escreveu também Entrevista de atriz, ainda não publicado.
#Papito